quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

(Um dos) Encantos das Ramblas

É verdade, mais uma das muitas histórias deste lugar emblemático que fica para sempre no coração daqueles que o visitam. Acho fantástico a diversidade que descobrimos em cada cantinho por onde passamos. Principalmente nas pessoas... Os vendedores a negociar os mais diversos produtos, os homens-estátua que animam todo o público com o seu silêncio, os artistas a porem em tela o ambiente e parte deles próprios, os moradores, os trabalhadores, os vendedores, os passeantes e turistas... as mais variadas e diferentes pessoas. Portugueses, espanhóis, alemães, italianos, ingleses, japoneses, brasileiros, americanos, chineses, indianos, aussies... Enfim, a variedade é tanta... Por vezes, ponho-me a pensar na imensidão de mundos que está em todas aquelas cabeças, cada uma moldada pelas mais diversas culturas, pelos mais diversos costumes, pelas mais diversas experiências... Enfim, uma imensidão variada de modos de encarar e viver a vida. Para mim, é um mundo de possibilidades extremamente reconfortante. A vida põe-nos muitos puzzles à frente... muitos mesmo. Que seria de nós se não tivéssemos muitas vezes o ponto de vista de outras pessoas para conseguir resolvê-los? Para nos ajudar a descobrir e encaixar algumas peças que nos passaram despercebidas? Duas cabeças pensam melhor do que uma, é verdade. Mas, sobretudo, pensam de maneira diferente uma da outra. Por isso, cada pessoa é como uma luz para mim: tem a possibilidade de iluminar-nos em caminhos que não vemos e não conseguimos percorrer. Caminhos que nos levam à felicidade e ao bem estar... Quando me ponho a pensar nisto, estranhamente ou não, lembro-me sempre de Luna Lovegood, personagem da saga de Harry Potter, e que representa a mensagem que quero deixar-vos. Como o livro fala muito melhor que eu, deixo-vos um pequeno excerto...

“- Olá! – saudou Luna com apatia ao mesmo tempo que girava a cabeça e se aproximava do quadro de anúncios.
- Porque não estás no banquete? – perguntou Harry.
- É que perdi quase todos os meus objectos pessoais – constatou Luna com seriedade – as pessoas tiram-mos e depois escondem-nos, sabes? Mas como esta é a última noite, preciso de recuperá-los; por isso coloquei estes avisos.
Apontou para o quadro de anúncios, no qual efectivamente havia colocado uma lista dos livros e das peças de roupa que lhe faltavam, pedindo para que os devolvessem.
Harry teve uma estranha sensação, uma emoção que não se parecia em nada nem com a ira nem com a dor que o atormentavam desde a morte de Sirius
. Demorou uns instantes em dar conta de que sentia pena de Luna.
- Porque é que as pessoas escondem as tuas coisas? – perguntou franzindo o sobrolho.
- Bom... – respondeu Luna com indiferença – Suponho que me consideram um pouco estranha, sabes? Há alguns que até me chamam Lunática Lovegood.
Harry olhou-a, e aquele novo sentimento de compaixão intensificou-se dolorosamente.
- Isso não justifica que te tirem as coisas – disse com sinceridade – queres que te ajude a procurá-las?
- Não, não – respondeu ela, sorridente – vão aparecer, no final aparecem sempre. O que se passa é que eu queria fazer a mala esta noite. Enfim... e tu porque não estás no banquete?
Harry encolheu os ombros.
- Não me apeteceu ir.
- Pois – disse Luna observando-o com aqueles olhos protuberantes e de um olhar extremamente brumoso – pois, imagino. Esse homem que os Devoradores da Morte mataram era o teu padrinho, não é verdade? A Ginny contou-me.
Harry limitou-se a acenar com a cabeça, mas deu conta que por algum curioso motivo não o magoava que Luna falasse de Sirius. Acabava de lembrar-se que ela também podia ver os thestrals
.
- Tu já...? – começou Harry – Quero dizer... Quem...? Já perdeste alguém?
- Sim – constatou Luna com naturalidade –, a minha mãe. Era uma feiticeira extraordinária, sabes? Mas gostava muito de experimentar, e um dia um dos feitiços saiu-lhe mal. Eu só tinha nove anos.
- Sinto muito – murmurou Harry.
- Sim, foi terrível – continuou Luna com desenvoltura – às vezes fico muito triste quando penso nela. Mas ainda tenho o meu pai. E de qualquer maneira, não é que nunca mais vá voltar a ver a minha mãe, pois não?
- Ah não? – disse Harry, desconcertado.
Luna moveu a cabeça, incrédula.
- Vá lá, Harry. Tu também os ouviste, por detrás daquele véu
, não foi?
- Referes-te...?
Harry e Luna olharam-se. Um débil sorriso assomava nos lábios de Luna. Harry não sabia o que dizer nem o que pensar; Luna acreditava em tantas coisas extraordinárias... E, sem dúvida, ele também estava certo de ter ouvido vozes do outro lado do véu.
- De certeza que não queres que te ajude a procurar as tuas coisas? – insistiu.
- Não, não – disse Luna – Acho que vou descer para comer um pouco de pudim e vou esperar que apareçam... Acabo sempre por encontrar tudo... Bom, boas férias Harry.
- Obrigado, desejo-te o mesmo – respondeu ele.
Luna percorreu o corredor, e, enquanto a via desaparecer, Harry deu conta de que o terrível peso que sentia no estômago se tinha aligeirado um pouco.”


(J.K. Rowling, “Harry Potter e a Ordem da Fénix”)

Todos nós podemos ser luzes uns dos outros se quisermos.

Espero que tenham gostado... até à próxima!...

1 comentário:

Dani disse...

357.
"Regra é da vida que podemos, e devemos, aprender com toda a gente. Há coisas da seriedade da vida que podemos aprender com charlatães e bandidos, há filosofias que nos ministram os estúpidos, há lições de firmeza e de lei que vêm no acaso e que nos são do acaso. Tudo está em tudo.
Em certos momentos muito claros da meditação, como aqueles que, pelo princípio da tarde, vagueio observante pelas ruas, cada pessoa me traz uma notícia, cada casa me dá uma novidade, cada cartaz tem um aviso para mim.
Meu passeio calado é uma coversa contínua, e todos nós, homens, casas, pedras, cartazes e céu, somos uma grande mutidão amiga, acotovelando-se de palavras na grande procissão do Destino."

Bernardo Soares in O Livro do Desassossego

Escrito pelo Génio.
E no entanto
As coisas sonhadas só têm o lado de cá...
É preciso viver os outros lados.


Próxima mensagem é minhaaaa
do amigo

Daniel